sábado, 30 de julho de 2016

histórias em 77 palavras: Profissão solitária

No rescaldo de uma formação ...



histórias em 77 palavras: Profissão solitária: Solidão! Num lugar repleto de gente, a sala de aula! A responsabilidade do que há para ensinar pesa!! Pesa mais do que a boa disposição dos...

domingo, 17 de julho de 2016

"Conflitos na Educação e sua resolução através do Sociodrama" - Como foi?

 

"Sala cheia", no Centro Comunitário de Telheiras. Um grupo de 24 mulheres muito interessadas, presentes e envolvidas numa das tardes em que fez mais calor nesta nossa cidade, para perceberem como o Sociodrama as pode ajudar a resolver melhor os conflitos com que se deparam no dia a dia.

Logo desde o início, feitas as apresentações da ação e da formadora, se percebeu que estávamos todas de acordo quanto a não há nenhuma solução mágica para a resolução de conflitos.

Passados os momentos iniciais do aquecimento e das apresentações dos participantes, os conflitos partilhados entre pares e os "animais" dramatizados que surgiram, levaram o grupo ao ponto.

Depois juntaram-se em grupos de quatro e escolheram um conflito para dramatizar perante o grande grupo. As situações dramatizadas perante o grande grupo foram:

  1. Situação de uso indevido telemóvel na sala de aula (duas situações);
  2. Conflitos entre crianças de jardim de infância, durante as suas brincadeiras, no recreio;
  3. Uma filha muito impulsiva, revoltada, com um comportamento irreverente e desadequado nas aulas, quer ficar à guarda do pai em vez de estar com a mãe;
  4. Uma amiga de um casal fica dividida, sem saber o que há-de fazer, quando vê um dos seus membros enamorado por outra pessoa.
Apresentadas as situações perante o grupo, foi necessário escolher quais eram as mais pertinentes para o grupo.

Foi feita uma escolha sociométrica, com as pessoas a colocarem-se junto de representantes de cada uma das situações.

A primeira escolha recaiu sobre a história da filha revoltada, com comportamentos inadequados, a querer ir viver com o pai em vez da mãe. Fez a dramatização, recriando a situação, com o maior número de papéis - como se se tratasse do átomo social da situação - a aluna, a professora, vária/os colegas, a Diretora de Turma, a Auxiliar (Assistente Operacional), a Diretora, o Pai, a Mãe, a Psicóloga da Escola, outros professores, a avó, ... . Foram feitas várias tentativas para resolver a situação: pediu-se a intervenção da Diretora de Turma, depois da Diretora, dos Pais, da Psicóloga; foram trazidas as dificuldades de cada um perante a vida e a pouca disponibilidade para lidar com a situação. A aluna estava completamente desmotivada para a Escola e era muito complicado estabelecer uma relação mais empática com ela por parte dos diversos intervenientes presentes. Ela queria mesmo ir-se embora da escola.

"Congelada" a cena, foi feita uma troca de papéis entre os diversos intervenientes.

Voltaram depois aos papéis iniciais e foi perguntado ao grupo se haveria outras formas de lidar com esta aluna.
O grupo começou por explorar a o nível organizacional, funcional, das pessoas que estavam nos cargos de Direção de Turma, da Diretora, da relação com outras organizações exteriores à Escola, como o Centro de Emprego, a Misericórdia, para ajudarem a procurar emprego para o Pai desempregado, por exemplo, melhorando assim a situação familiar.
Procurando outra solução, uma participante disse que tinha tido um aluno parecido, enquanto Diretora de Turma, e que tinha pedido ajuda a um colega dela, um outro professor que tinha uma melhor relação com o aluno, uma maior empatia com ele. Esse professor passou a conversar com o aluno regularmente, passou a ser uma espécie de tutor para ele. Diz que o aluno melhorou significativamente.  Também esta situação foi dramatizada e vivenciada. Observada pelo grupo. O que se teria passado? Teria havido um encontro de "ser humano" a "ser humano"? A Diretora de Turma teve a coragem de reconhecer os seus limites, as suas dificuldades e pedir ajuda ...

Fez-se um intervalo.

Passados 10 minutos voltámos aos "trabalhos", novo conflito a ser dramatizado, mas agora sobre o uso indevido do telemóvel em sala de aula e usando uma técnica ligeiramente diferente: ofereceram-se os protagonistas principais, a professora, a aluna e os colegas.
Feita uma primeira dramatização da cena, foi pedido que outros participantes na sala acrescentassem contributos para a cena, que fizessem de duplos. Seguiu-se a técnica do espelho, com outras formandas a assumirem os papéis principais e repetindo a cena. Finalmente a troca de papéis entre os intervenientes a aluna e a professora. Estávamos já à procura das possíveis "soluções" para este conflito, ou, melhor dizendo, de outras formas de lidar com a situação. Começou por surgiu a solução mais institucional, a da participação à Direção, perante a recusa da aluna em guardar o telemóvel e em o deixar de utilizar. Seguiram-se outras sugestões também importantes, a partir da observação e da reflexão: a necessidade de os professores manterem uma postura de firmeza perante um comportamento desajustado, como forma de prevenir futuros comportamentos semelhantes; a importância de os professores tomarem uma atitude firme, logo dêem conta que o comportamento surge, marcando bem a sua posição; a possibilidade de haver um local, uma caixa, onde todos os que entram na sala colocam o seu telemóvel em silêncio, incluindo o professor ou a professora; a importância do exemplo dado por todos os professores na utilização dos telemóveis em sala de aula; a necessidade de refletir e de perceber que uso educativo se poderá fazer dos telemóveis ou de tablets, já que são artefactos tão significativos na nossa sociedade; a importância do estabelecimento de regras claras e respeitadas por todos, incluindo os professores, ou seja, regras relativas à utilização de telemóveis em contextos sociais e não apenas em relação às salas de aula. Houve ainda quem sugerisse que uma simples e discreta chamada de atenção ao aluno/a em questão, desvalorizando a situação, pode ser muito eficaz.

Estava quase na hora de terminar, mas ainda tivemos tempos de fazer o "Jogo da Floresta Mágica".

Foi um tarde bem passada, em que se fez sentir as elevadas temperaturas do dia de 6.ª feira, mas em que as participantes afirmaram ter aumentado o seu reportório de possibilidades para lidar com situações de conflito, se sentiram mais seguras, como pessoas e como professoras, por terem partilhado umas com as outras as suas experiências e vivências.

Esta foi apenas uma abordagem inicial das potencialidades do Sociodrama. Em breve será anunciada uma nova ação de formação de 25h neste domínio. Muito agradecida a todas que participaram.
Margarida Belchior
(17/07/2016)

Notas: As fotografias foram tiradas pela Maria João Conde, da AECD, parceira nesta formação.

 

 

 

Formação na Sociedade Portuguesa de Psicodrama - Inscrições abertas