domingo, 3 de maio de 2015

Sociodrama no XXIX Encontro de Educadores pela Paz - Galiza, Chantada (24, 25, 26/4/2015)

[Foto de grupo do Encontro]



Foi neste contexto de grande participação e alegria que foi desenvolvido um workshop de "Sociodrama: intervenção e educação". A chuva que nos acompanhou nestes dias em nada perturbou as atividades previstas no programa do encontro, nem o empenho de todos os que se deslocaram até Chantada, Instituto Educativo de Vale do Asma. Parabéns pela excelente organização e acolhimento!! Parabéns pela juventude e empenho na participação de todos os presentes!

Foram 20 os participantes do workshop de sociodrama. Um grupo, de mulheres, maioritariamente de gente jovem, com uma enorme abertura e curiosidade para conhecer e experimentar o sociodrama.
Desde a fase de aquecimento (fase de apresentação com jogos de apresentação, música e deslocações no espaço, locogramas e axiogramas) foi revelada a grande generosidade e entrega deste grupo: com a escolha de personagens da infância (que foram convidados a encarnar, dramatizar, com a ajuda de objetos disponíveis) as saudades dos pais e dos/as avós que já partiram fizeram-se presentes de forma intensa. Foi necessário acolher e lidar com todas essas emoções. O jogo da floresta mágica (as "árvores" que protegem os viajantes que se deslocam pelo meio da floresta de olhos fechados e não deixam que nada de mal lhes aconteça) foi uma forma de isso acontecer. Serviu também para cada um perceber como lida com o desconhecido, com o imprevisível.
Formaram-se depois grupos de acordo com as cores de que cada um estava vestido. Cada grupo escolheu um tema, um movimento e um som para se apresentar ao grande grupo. Surgiram: o outono, com as suas folhas secas, acompanhado do som (feito com folhas de jornal) do caminhar sobre elas; a trovoada e a tempestade, com o som do ribombar dos trovões; as pombas da paz e a canção que as acompanhou voando sobre Chantada; o mar e a onda que nos envolve. À medida que cada grupo se ia apresentando, todos iam mimetizando o movimento e o som apresentados. Foi um momento de uma grande criatividade e espontaneidade. Seguiu-se a escolha do tema a trabalhar pelo grupo. O tema escolhido foi o do mar. Para percebermos como iríamos trabalhar esse tema, foi sugerido aos participantes que voltassem a passear pela sala e que fossem pensando no que esse tema lhes invocava: o mar calmo e tranquilo ao final da tarde, as profissões associadas ao mar e a necessidade de sobrevivência, o mar (água) como fonte de vida, a praia e o descanso prazeroso, desfrutando da frescura do mar, o mar revolto e alterado e os sustos que nos pode pregar, ...
Com as emoções ao rubro, decidimos dramatizar um "susto" apanhado no mar: uma brincadeira com bola, acompanhada por uma irmã mais velha, num mar calmo; a irmã ausentou-se, o sol escondeu-se atrás das nuvens, o mar alterou-se e o afogamento estava eminente, quando surgem dois salvadores que a trazem para terra; a ambulância, o hospital, a mãe aos gritos e em choque fizeram parte deste episódio que acabou bem, porque tudo se resolveu da melhor forma. Depois foi necessário festejar esta vida que se tinha salvo: fizemos uma grande festa em conjunto, com muita música e danças.
Desenrolada a ação surgiu a fase da partilha e reflexão: algumas participantes referiram como o papel para o qual tinham sido escolhidas está relacionado com o papel que habitualmente desempenham no seu universo familiar e de amigos; outras referiram como os jogo dramáticos experimentados podem ser realizados no seu quotidiano; mas qual é a diferença entre o sociodrama e o psicodrama?
Resposta dada:
- para se ser psicodramatista é necessário ter uma formação de psicoterapeuta que não tenho, só tenho formação de sociodramatista;
- a intenção deste workshop é fazer sociodrama, não psicodrama; se fosse psicodrama tudo teria sido orientado de outra forma;
- na minha formação como sociodramatista, a da Sociedade Portuguesa de Psicodrama, há uma clara distinção entre uma abordagem individual e psicoterapêutica, a do psicodrama, e a do sociodrama, uma abordagem centrada no grupo; há situações em que a fronteira entre estes dois tipos de abordagem não é clara e as escolas de formação têm também uma abordagem diferente umas das outras, por exemplo, na Argentina há quem fale de psico-sociodrama; há sempre um fenómeno que se dá, mesmo no psicodrama que acontece em grupo: as questões trabalhadas acabam por não ter apenas uma repercussão individual, mesmo a plateia, o público, acaba normalmente por ser tocado, por aprender algo com aquilo a que assistiu e em que participou de forma mais passiva;
- Moreno dizia: «Um verdadeiro processo psicoterapêutico deve visar a cura de toda a humanidade.» Cura no sentido o mais abrangente possível; o indivíduo vive inserido no(s) seu(s) grupo(s) e é nesta inter-relação que é necessário agir, ora com o enfoque no grupo (sociodrama), ora com o enfoque no indivíduo (psicodrama).

Foi uma excelente tarde de sociodrama. Muito obrigada ao grupo pela sua generosidade e pelas suas partilhas e questões. Até para o ano!!

Muito obrigada pelo convite e pelo acolhimento!!

Margarida Belchior
(03/05/2015)